Vote nos “melhores” do Carnaval de BH. Ou: como fazer um Carnaval que não queremos!

Por Ney Mourão

Começam a pipocar, no pós-Carnaval de BH, uma ou outra lista para que você, carnavalescos, foliões, sassariqueiros, muvuqueiros, escolham os “melhores” blocos. Listas, no mínimo, estranhas. Ausência de diversos blocos no pré, categorização sectarista e até um tanto preconceituosa de algumas agremiações. Em um universo de mais de 500 blocos, indicações de “melhores” nesse ou naquele quesito, em votaçoes fechadas, sem a possibilidade de ser acrescida de dados. Qual o critério para esta indicação prévia? A que propósito estas lista se destinam? Não, não veja hoje, no Globo Repórter, pois não vale a pena. 

 

Um dos maiores desafios dos blocos, hoje, por quem os faz, administra, responde legalmente, idealiza, é justamente criar um ambiente afetivo e organizacional em que todos, potencialmente, enxerguem-se como diversos, em suas características, porém semelhantes em seus “valores” (do ponto de vista de “quanto valem”). Incentivar a comunidade carnavalesca a ver o Carnaval dessa forma, comunidade que nem sempre ou na maioria das vezes não tem a noção desse desafiador bastidor, em que às vezes nós mesmos nos pegamos em nos autocaracterizarmos como “melhores”, é um desserviço, quando uma lista já surge assim, de forma seletiva.

Há blocos excepcionais – e aí, até me arrisco a inserir o bloco que idealizei e coloquei na rua, com apenas um mês e meio de existência, com duzentas pessoas na bateria – que foram ignorados e que fazem um árduo trabalho pra estarem lá, fazendo o Carnaval acontecer. Há dezenas deles, que habitualmente não merecem uma nota sequer de Imprensa, blogs, e que arrastam uma comunidade inteira, e que realizam trabalhos de um ano inteiros em associações, nos bairros, longe da visibilidade ou do desejo de estar entre os “melhores”.

 

Close errado. Fantasia equivocada na passarela, senhores! Vocês têm pelo menos uns 500 blocos para conhecerem, além destes “indicados” aí. Podem ter certeza de que esse não é um choro de não indicado, mas uma manifestação sincera de respeito a todos os colegas, amigos, que sei o que enfrentam. E respeito ao Carnaval de BH, diferenciado, sim, e cuja maior luta, hoje, é não se tornar “apenas o melhor” Carnaval do Brasil. Será uma pena, se isso acontecer.